O espírito olímpico parece ter contagiado o chefão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, após os Jogos de Pequim. A categoria mais importante do automobilismo mundial vai passar por uma série de mudanças que visam deixar a disputa mais equilibrada. As modificações certas estão ligadas aos carros, que em 2009 voltam com asas modificadas, pneus slicks, além de um sistema para reaproveitar a energia acumulada nas freadas, o KERS, que vai poder ser utilizado por cerca de sete segundos a cada volta dando um ganho de 70 cavalos de potência ao motor.
O problema é que Ecclestone estuda também algumas alterações no regulamento da Fórmula 1. Uma das possíveis mudanças diz respeito ao treino de classificação, que foi alterado muitas vezes ao longo dos últimos anos. Mas o chefão do circo parece querer ir além. Bernie Ecclestone já manifestou mais de uma vez o desejo de mudar o sistema de pontuação, que seria trocado por medalhas, assim como ocorre nas Olimpíadas. Assim, o primeiro colocado ficaria com a medalha de ouro, o segundo com a prata e o terceiro colocado levaria a medalha de bronze. O campeão seria o piloto que obtivesse mais medalhas de ouro ao longo da temporada.
A justificativa de Ecclestone é que com o sistema de medalhas, os pilotos passariam a brigar mais pelas vitórias invés de administrar uma segunda colocação, por exemplo. O chefão não gostou do fato de Lewis Hamilton ter sido campeão no Brasil com um quinto lugar na prova de Interlagos. Se o sistema de medalhas valesse em 2008, Felipe Massa seria o campeão com seis vitórias contra cinco do piloto inglês.
Pelo que entendi, Bernie Ecclestone não ficou muito satisfeito com desfecho da temporada 2008. Parece piada. Quantas decisões na história da Fórmula 1 foram iguais as de Interlagos? Não digo nem pela última volta, que foi incrível. Mas só o fato de 2 pilotos chegarem à última etapa com chances de ser campeão já é muito bom. Mudar o sistema de pontuação é besteira. E o que dizer do campeonato do ano passado? Na última corrida, que também foi em São Paulo, 3 pilotos tinham chances de ser o campeão. Em 2006, Michel Schumacher e Fernando Alonso também brigavam pelo título na última corrida, mas no caso com chances bem menores. Schumacher tinha 10 pontos a menos do que Alonso e só um milagre daria o oitavo título mundial ao alemão. Só que a história seria diferente se o motor se Schumacher não tivesse estourado na penúltima etapa, na China. Se a fatalidade não tivesse acontecido, ele e Alonso chegariam a São Paulo separados por apenas 2 pontos. O equilíbrio atualmente é evidente.
A verdade é que as vitórias já são valorizadas no regulamento da Fórmula 1. Se dois pilotos terminam empatados em pontos, o que decide é o número de vitórias. Não é justo que um piloto fique à frente de outro no campeonato apenas pelo número de vitórias, ou melhor, pelo número de medalhas de ouro. Esse ano por exemplo, o finlandês Heikki Kovalainen, da McLaren, ganhou uma corrida (a única em sua carreira) de presente. Para quem não se lembra foi no GP da Hungria, em que o brasileiro Felipe Massa talvez tenha feito a sua melhor corrida em 2008. Ele largou em terceiro lugar, ultrapassou dois carros na largada e liderou até faltar 3 voltas para o fim, quando o motor da Ferrari estourou. Automobilismo não é Olimpíada e a regularidade deve ser premiada.
Outra questão que vai contra a adoção das medalhas diz respeito às corridas polêmicas. Esse ano, na prova da Bélgica, o inglês Lewis Hamilton perdeu o primeiro lugar conquistado na pista por causa de uma suposta ultrapassagem irregular em cima de Kimi Raikkonen no final da prova. A vitória foi dada a Felipe Massa e Hamilton caiu para terceiro na classificação da corrida. Será que com a vitória sendo tão determinante para o rumo do campeonato a direção de prova daria o "ouro'' para Felipe Massa? Acho difícil. Se Ecclestone quer valorizar a vitória, ele deveria propor a volta do velho sistema de pontuação, que era usado até 2002. Na época, a pontuação era a seguinte:
1º Lugar - 10 pontos
2º Lugar - 6 pontos
3º Lugar - 4 pontos
4º Lugar - 3 pontos
5º Lugar - 2 pontos
6º Lugar - 1 ponto
Dessa forma, a vitória era mais valorizada. A partir de 2003, com o novo sistema de pontuação, oito pilotos pontuavam por corrida e não mais seis. O segundo colocado passou a ganhar 8 pontos, ou seja, apenas 2 pontos a menos do que o primeiro colocado. O objetivo da mudança era aproximar os demais corredores de Michael Schumacher, que reinou absoluto de 2000 a 2004, conquistando 5 títulos seguidos.
Se querem valorizar as vitórias, não vejo forma mais viável do que essa. Quanto às medalhas, é melhor deixá-las para Londres 2012.
Obrigado
Há 4 anos