quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Estádios da Copa do Mundo são recusados por clubes

Alguns projetos das novas arenas de futebol para a disputa da Copa do Mundo de 2014 chegam a beirar o ridículo. Nos projetos da cidade de Salvador e de Recife existem claúsulas que afirmam que os novos estádios serão usados pelos clubes locais. Porém os clubes afirmam que não podem ser obrigados a jogarem fora de seus respectivos estádios.

Estes projetos ficam completamente sobre suspeita do ponto de vista econômico. Quem jogará na nova arena de Recife e no estádio da Fonte Nova? E quem jogará no novo estádio em Cuiabá?

A matéria "Clubes rejeitam estádios da Copa-14", do jornal Folha de São Paulo,do dia 27 de agosto, mostra em que ponto está esse discussão.

Confira a reportagem abaixo:


Clubes rejeitam estádios da Copa-14

Para fugir dos vexames de campos vazios e rombo nas contas, governos tentam convencer os times a abraçar projetos

Cartolas de Pernambuco, Bahia e Distrito Federal preferem seus "alçapões" a arenas que serão erguidas para Mundial

PAULO COBOS
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

De um lado, governos estaduais contando com jogos de clubes nos estádios que serão erguidos para a Copa de 2014. Do outro, os clubes batendo o pé, alegando que é mais vantajoso continuar em suas arenas. No meio, o risco do surgimento de elefantes brancos país afora.

Já ocorre em pelo menos três sedes escolhidas para o Mundial: Brasília, Recife e Salvador.

As cidades nordestinas já lançaram cálculos prevendo que o retorno financeiro das obras só acontecerá se os clubes trocarem suas tradicionais casas pelas novas arenas.

Os planos dos governos deixariam em segundo plano sete estádios, com capacidade para cerca de 220 mil torcedores.

Pernambuco lançou consulta pública para a PPP (parceria público-privada) da sua arena, orçada em R$ 452 milhões.

No documento, o governo diz que uma das premissas "para o equilíbrio financeiro" do estádio será que "os três grandes clubes da capital do Estado [Náutico, Santa Cruz e Sport] deverão jogar seus melhores jogos na Arena, totalizando o número de 60 jogos por ano".

"Não será missão do governo convencer os clubes a jogarem no estádio, e sim de quem ganhar a concessão", diz Ricardo Leitão, secretário da Casa Civil do governo pernambucano.

Uma tarefa complicada.

"O Sport é contra. Como é que vou levar para lá meus 149 camarotes, 8.400 cadeiras, 11 mil sócios? Não vou jogar em um estádio que não seja nosso", afirma Sílvio Guimarães, o presidente do clube rubro-negro.

"Se ganharmos só com a venda de ingressos, não vamos jogar lá. As pessoas vão ver as partidas pelo clube, não pelo estádio", declara Maurício Cardoso, o presidente do Náutico.

Situação similar ocorre em Salvador. O edital da PPP para a reconstrução da Fonte Nova prevê 56 jogos de Bahia e Vitória em um ano. Cada clube faria metade das partidas. Em tese.

"É uma previsão para fechar a conta do estádio. Os jogos dos clubes são essenciais na operação", afirma o secretário de Trabalho, Emprego e Cidadania da Bahia, Nilton Vasconcelos, que deixará a negociação a cargo da empresa vencedora.

Pelo edital, quanto menor for a lucratividade da Fonte Nova, maiores serão os desembolsos do Estado para o vencedor da licitação -a reforma está orçada em R$ 550 milhões.

Mas os clubes também pensam no bolso e rejeitam a possibilidade. O Vitória, por exemplo, tem o estádio Barradão, que é superavitário e pode receber 35 mil pagantes.

"É um absurdo. Como um governo põe no edital que temos de jogar lá?", afirma Jorge Sampaio, vice-presidente do Vitória.

O Bahia tem jogado no estádio do Pituaçu, que é do Estado. A intenção do governo é usá-lo para esportes amadores e induzir o clube a ir para a Fonte Nova. Mas a agremiação pretende obter a concessão do Pituaçu.

No Distrito Federal, o governo não incluirá na licitação nenhuma previsão de Gama e Brasiliense atuarem no reformado Mané Garrincha, que receberá 70 mil pessoas. Mesmo assim, já imagina dificuldades.

"O problema é que os clubes dizem que o Mané Garrincha é neutro e que seus estádios são caldeirões", diz o secretário de Esportes, Aguinaldo de Jesus.

O Estado já bancou a reforma do Bezerrão (R$ 55 milhões), que ficou com o Gama. O Brasiliense atua na sua casa, a Boca do Jacaré, que deverá receber dinheiro público para ser CT na Copa. Os clássicos locais atraem cerca de 10 mil pessoas.

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