segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O Novo Desafio

Depois de passar pela “prova” dos pontos corridos, o futebol brasileiro tem a necessidade de outra grande mudança. Em 2003, o Campeonato Brasileiro sofreu uma grande modificação. Pela primeira vez a competição passou a ser disputada no sistema de pontos corridos, uma fórmula na qual todas as equipes se enfrentam em partidas de ida e de volta. O time que soma mais pontos depois da última rodada é o campeão nesse formato que segue adotado no Brasil e está em sua sexta temporada.

A mudança não foi tão simples, pois o torcedor brasileiro estava acostumado com um campeonato mais curto e com mais fases. As finais eram muito esperadas e por isso, o campeonato de pontos corridos corria o risco de não ser bem aceito. A média de público em 2003 e em 2004 foi preocupante. No primeiro ano com a nova fórmula de disputa, a média de torcedores presentes nos estádios foi de pouco mais de 10mil. No ano seguinte foi ainda pior, com apenas 8mil expectadores em média por partida.

Mas aos poucos as pessoas se acostumaram com o campeonato longo, que tem duração de oito meses. Atualmente 20 clubes disputam o Campeonato Brasileiro da Série A e o alto equilíbrio no nível técnico faz com que praticamente todos os times estejam envolvidos em disputas, sejam elas pelo título, por vagas em competições internacionais ou pela fuga do rebaixamento para a segunda divisão. O torcedor entendeu o campeonato de pontos corridos e as várias “finais” que são os confrontos diretos. Com isso, a média de público nos estádios cresceu bastante.

No ano passado, 17.461 expectadores em média compareceram aos jogos durante o Campeonato Brasileiro. Em 2008, esse número está próximo dos 17mil expectadores por partida. No final do campeonato, as disputas se intensificam e surgem muitas promoções para atrair o público. Nas últimas rodadas, a média foi muito boa, melhor inclusive que em alguns países da Europa.

A presença de torcida nos estádios só não é maior porque no começo do campeonato nacional o desinteresse é muito grande. O motivo é que os clubes estão disputando fases decisivas de outras competições, como a Copa Libertadores da América e Copa do Brasil. Esse é o grande problema do Campeonato Brasileiro. Na Europa, Ásia e até mesmo em países da América do Sul, a temporada de futebol começa no mês de agosto e termina em maio do outro ano. Todas as competições começam e terminam no mesmo período. As férias ocorrem nos meses de junho e julho e a conseqüência no brasileirão é grave.

Os clubes da Europa principalmente, contratam jogadores no meio do ano para começarem a temporada em agosto. O Brasil é um grande mercado para esses clubes e por isso, o Campeonato Brasileiro é “esvaziado” no meio da competição, gerando um grande problema para os clubes, que perdem muitos jogadores e têm o planejamento alterado. O maior exemplo em 2008 é o Flamengo, que liderou a competição por nove rodadas seguidas.

O Flamengo perdeu atletas importantes e a partir da 14ª rodada começou a cair na tabela de classificação. O time rubro-negro perdeu três jogadores titulares, entre eles o atacante Marcinho, que era o artilheiro do Campeonato Brasileiro com sete gols marcados. Os atletas foram para times de Europa e da Ásia, onde a temporada de futebol estava no período de férias em pré-temporada. O Flamengo passou por dificuldades e caiu para a sétima colocação.
Obs: Não foi apenas o Flamengo que sofreu com a janela de transferências para o exterior. Ao todo, 83 jogadores que começaram a disputa da primeira divisão deixaram seus clubes até o final do primeiro turno. Mais de 40 atletas foram jogar em outro país, enquanto os demais ou estão sem clubes ou foram para times da segunda e da terceira divisão. O Santos, mesmo sem brilhar no Campeonato Brasileiro, foi o time que mais perdeu atletas. Cinco jogadores deixaram o peixe antes da metade do campeonato e foram para times da Europa. O Flamengo aparece em segundo lugar na lista dos mais desfalcados. O time carioca perdeu quatro jogadores. Em seguida estão Palmeiras, Grêmio e Fluminense que perderam três atletas cada.
A adequação
Uma possível adequação do nosso calendário ao calendário do futebol europeu já é estudada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol). O motivo é deixar o futebol brasileiro mais planejado e evitar que os clubes sofram tanto com as perdas de atletas no meio do campeonato nacional, como explica o diretor de competições da CBF, Virgílio Elísio. “A adaptação do calendário brasileiro seria importante para organizar mais o nosso futebol e dar mais tranqüilidade aos clubes”. Virgílio também fala sobre o número excessivo de competições que existe no primeiro semestre. “É preciso distribuir melhor as competições ao longo do ano. Os clubes que jogam a Copa Libertadores por exemplo, não podem jogar a Copa do Brasil, porque não há espaço no calendário. Isso tem que mudar”, diz o dirigente.

Os clubes da Série A são os mais prejudicados com o atual calendário do futebol brasileiro. Para o técnico Hélio dos Anjos, do Goiás, o único representante do estado na elite nacional, o que falta é somente a adequação ao calendário europeu, com a temporada começando em agosto e terminando no meio do ano seguinte. “O que falta é apenas nós invertermos a nossa temporada para ela ficar igual à dos demais países. O futebol brasileiro vive um momento muito bom, as regras estão sendo cumpridas, mas o problema é que exportamos muitos atletas no meio do ano e isso nos atrapalha muito”, diz Hélio.
Depois de implantar com sucesso o sistema de pontos corridos no país, o grande desafio dos nossos dirigentes para mudar o calendário de competições do Brasil. “Essa é uma das grandes preocupações de Ricardo Teixeira (presidente da CBF). Em breve ele vai tomar uma decisão definitiva a favor ou contra a mudança”, diz Virgílio Elísio, que acrescenta ainda que a televisão e os patrocinadores podem ser o maior empecilho para a nova medida. “A televisão e os patrocinadores sustentam o campeonato e por isso, a mudança no calendário do futebol não é tão simples. É preciso uma longa conversa a respeito desse tema, que é bastante complexo, para saber se a inversão da temporada de competições no Brasil é viável ou não”.

Apesar de concordar que alguma medida deve ser tomada para que os clubes brasileiros não sofram tanto com o êxodo de jogadores para o exterior, o presidente do Goiás, Pedro Goulart, é contra a mudança no calendário nacional. “Não concordo com a mudança no calendário nacional. Nós temos que ligar o futebol ao povo brasileiro e ninguém vai abrir mão de viajar nas férias, seja no natal ou no ano novo, para ver jogos de futebol”. Para o dirigente, a solução é outra. “É preciso que haja alguma mudança na lei no sentido de dificultar a saída de jogadores para o exterior. A outra opção seria diminuir o número de competições, o que não vai acontecer”, diz.

Mas o próprio calendário atual mostra que o torcedor brasileiro não estranharia muito o novo modelo, a ponto da presença de público nos estádios ser pequena. Os campeonatos estaduais já começam no em janeiro, geralmente no final do mês. Como o futebol brasileiro tem menos de dois meses de férias, seria possível encaixar um período de recesso em janeiro, que corresponderia ao meio da temporada. Seria um período ideal para fazer ajustes nos times e recuperar atletas. O período de férias de uma temporada para outra poderia começar na segunda metade de junho e terminar no início de agosto, totalizando pouco mais de um mês, que é exatamente a duração das férias atuais.

Com o calendário adequado, todas as competições começariam em agosto, inclusive as copas, e terminariam no final do primeiro semestre no ano seguinte. Dessa forma, seria possível distribuir as competições ao longo de dez meses de atividades. Apenas os campeonatos estaduais precisam sofrer modificações. Eles devem ser mais curtos e não durar mais do que dois meses. Isso é possível se for adotada uma fórmula de disputa com mais jogos eliminatórios dentro dos campeonatos estaduais, que atualmente são longos, com uma duração de três meses e com muitas fases diferentes. Mas o futebol brasileiro não precisa perder a sua identidade e nem mesmo o charme das tradicionais competições regionais para modificar o calendário de competições.
Copa Sul-Americana
Apesar da mudança no calendário nacional ser bastante complexa, existe um grande consenso entre os dirigentes quando o assunto é Copa Sul-Americana. Atualmente a competição é disputada no segundo semestre e não é capaz de atrair a atenção dos clubes e dos torcedores. O problema é que o torneio é realizado em meio à reta final do Campeonato Brasileiro e por isso, muitos clubes o desprezam porque têm objetivos mais importantes no campeonato nacional.

A temporada desse ano deixa bem claro o desinteresse dos clubes brasileiros pela Copa Sul-Americana. Oito times brasileiros se classificaram para a competição. Na primeira fase as equipes se enfrentaram em um sistema de mata-mata e apenas quatro avançaram para a fase internacional. A maioria dos times poupou jogadores nas partidas da Copa Sul-Americana. São Paulo, Palmeiras e Grêmio colocaram todo o time reserva em campo. Os motivos são vários. Quando a Sul-Americana começa, as equipes estão preocupadas com o título no Campeonato Brasileiro, com a conquista de uma vaga na Copa Libertadores ou com a fuga do rebaixamento. Somente quando ficaram longe dos cinco primeiros colocados no Brasileirão, é que Botafogo e Internacional, por exemplo, colocaram as suas equipes principais na Sul-Americana.
Obs: O técnico do Atlético Paranaense, Geninho, nem sequer foi ao México para o jogo contra o Chivas Guadalaraja, na Copa Sul-Americana. O filho do treinador, André Souto, comandou os reservas do time, que empataram por 2 a 2 e depois foram eliminados no jogo de volta em Curitiba, já com a presença de Geninho no banco da equipe.
Para o presidente do Goiás, Pedro Goulart, é possível mudar essa competição para atrair o interesse dos times. “Essa competição sim é possível ser modificada. A Copa Sul-Americana não leva a lugar nenhum e a premiação é baixa. Ela é disputada do segundo semestre, quando os times estão brigando por objetivos mais importantes no Campeonato Brasileiro.” Já o diretor de competições da CBF, Virgílio Elísio, também acha que há como modificar essa competição. “Nós deveríamos ter em toda América do Sul, a Libertadores e a Sul-Americana disputadas ao mesmo tempo, para valorizar os dois campeonatos. Da nossa parte não há problema algum, porque os clubes brasileiros que disputam a Copa Libertadores não disputam a Sul-Americana. O problema mais uma vez está na televisão e também na Conmebol, que são os organizadores do torneio. De fato, se apenas tirarem da Sul-Americana os times que jogam a Copa Libertadores, a televisão vai perder audiência, mas se as duas competições forem disputadas ao mesmo tempo isso não vai acontecer”.

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