quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Triangular final do Apertura na Argentina mostra uma boa alternativa para o campeonato brasileiro

O Torneio Apertura do Campeonato Argentino de 2008 terminou de forma extraordinária. O Boca Juniors conquistou seu vigésimo nono título nacional da história na partida decisiva contra o modestíssimo Tigre, equipe que voltou a disputar a primeira divisão apenas em 2007, depois de 25 anos fora da elite do futebol argentino. Apesar de ter perdido o jogo por 1 a 0, o Boca se sagrou campeão.

O Apertura 2008 foi histórico. Pela segunda vez, teve que ser decidido em um triangular final. Na Argentina não há critérios de desempate. Se duas ou mais equipes terminarem empatadas no final da competição, o campeão é decidido em jogos desempate, em estádios neutros. A primeira vez que três equipes empataram na primeira posição foi em 1968, quando o Vélez Sarsfield conquistou seu primeiro campeonato, ante o Racing e River Plate. Em outras seis oportunidades, incluindo a desse ano, jogos desempate foram feitos, sendo o último no Apertura de 2006, quando o Estudiantes foi campeão em cima do Boca.

Emoção não faltou no triangular de 2008. Além de Tigre e Boca, o San Lorenzo disputava o torneio desempate. No primeiro jogo, o San Lorenzo ganhou do Tigre por 2 a 1, e poderia ter feito mais. A equipe do veterano Solari poderia ser campeã se vencesse o Boca, mas acabou eliminada, pois perdeu por 3 a 1, e não teria mais chances no saldo de gols. O terceiro gol salvador de Chávez para os Xeneizes nos acréscimos não só eliminou o San Lorenzo, como deu o título para seu time.

Na derrota para o Tigre, a pressão depois do gol de Lázzaro foi enorme. Em um momento raro, o goleiro foi substituído por motivos técnicos. García, que falhou no gol, estava claramente abalado, e o treinador Carlos Ischia não hesitou em tirá-lo de campo, já que ele também havia engolido um frango no gol sofrido contra o San Lorenzo. Mas com toda sua tradição, o Boca soube usar a “catimba” e segurou o resultado, como nenhum outro time no mundo sabe fazer, principalmente em jogos decisivos.


Mas o motivo desse post é mostrar a alternativa que os argentinos dão a competitividade do campeonato. O jogo desempate também é usado na Itália, mas lá não há como serem mais de duas equipes na disputa. Se três ou mais empatarem, somente os dois melhores, no confronto direto durante o campeonato, decidem o título. Em recente post nesse blog, Fernando Vasconcelos levantou argumentos que derrubam qualquer crítico do sistema de pontos corridos. A não presença das finais é um dos principais pontos levantados por esses críticos.

O jogo desempate é uma alternativa para que o Brasileirão tenha essa final. Em sete campeonatos desde que foi mudado o sistema, o campeonato brasileiro foi decidido na última rodada em três oportunidades, o que comprova que há muitas chances de duas ou mais equipes terminarem empatadas no final. Imagine como seria interessante uma partida entre São Paulo e Grêmio, caso o tricolor paulista perdesse para o Goiás. Mas no Brasil isso remeteria novamente à questão do calendário, já que os jogadores perderiam um pouco de suas férias para disputarem o jogo, ou jogos a mais. A solução mais viável, sem me alongar, acho ser a diminuição dos estaduais. Mas isso é outra discussão.

Levanto essa questão também ao analisar os critérios de desempate no Brasil. Se o São Paulo tivesse perdido para o Goiás, o Grêmio seria campeão por número de vitórias. Ora, perder menos é tão honroso quanto ganhar mais, desde que tenham o mesmo número de pontos? O saldo de gols é consagrado tradicionalmente em muitas competições. Os campeonatos inglês, francês e alemão o usam como primeiro critério de desempate. Mas o confronto direto tem crescido nos principais campeonatos do mundo. No português e no espanhol (na temporada de 06/07, o Real Madrid só foi campeão por ter ganhado uma partida e empatado a outra diante do Barcelona) é o primeiro critério, como também na Liga dos Campeões. Na Alemanha e na França, é o terceiro critério. O fato é que número de vitórias não aparece em quase nenhum. Somente em Portugal, como apenas o quinto fator desempate.

Os critérios de desempate no Campeonato Brasileiro poderiam ser mudados. O número de vitórias não me parece ser o mais justo. O Apertura de 2008 do campeonato argentino mostrou uma boa saída, com o jogo desempate, que daria chances de acontecer as tão desejadas “finais”. Seria uma atração e tanto. Para que a final possa acontecer com maior regularidade, alguns defendem o confronto entre o campeão do primeiro turno contra o vencedor do segundo. Mas acredito que prejudicaria a cultura de planejamento a longo prazo que está começando a engrenar no Brasil. Se o jogo desempate não for a melhor opção, por questões de logística (calendário, direitos de transmissão, já que a Globo teria que rever sua programação), acredito que o confronto direto tem que ser utilizado como o primeiro critério de desempate, seguido de saldo de gols. Desse modo seria mais justo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fala, camarada!

Bem interessante a observação desse post. O que posso dizer é que o sistema de finais marcou minha vida desde pequeno. Quando elas se foram (não levemos em conta se isso foi bom ou ruim - argumentos não nos faltam)ficou um certo vazio. O que me levou até a um certo desinteresse pelo brasileirão. O sistema argentino parece uma boa pedida (apesar de ser argentino...), mas sabemos que há muitos poréns a serem esclarecidos, como você bem apontou.

Todavia nesse ano que já começou com reformas na língua e nos governos pelo Brasil e mundo a fora, não seria nada mal que fosse revisto nosso campeonato.

Belo trabalho aqui no blog.
Estão de parabéns!

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Forte Abraço!